Principal causa de perda irreversível da visão, o glaucoma afetará 80 milhões de pessoas em 2020 e 111,5 milhões em 2040, segundo projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa doença, já afeta hoje, mais de 67 milhões de pessoas no mundo, das quais 10% são cegas.No Brasil, há escassez de informações confiáveis e atualizadas sobre a prevalência da doença.Para alertar sobre a necessidade de diagnóstico precoce, é celebrado neste domingo (26), o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma.
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o Estado registrou de janeiro a março deste ano, um total de 189 internações por glaucomas, sendo que, deste total de pacientes, 91 eram do sexo feminino e 98 do sexo masculino.
O aposentado Joaquim do Alagado, 68 anos, fala da sua trajetória com a doença. “Sou do tempo antigo e não cuidava da saúde quando era jovem. Nos dias de hoje, eu sofro com a falta de informações que tive na época. Perdi 90% da visão do meu olho direito e 50% da visão do meu olho esquerdo”. Agora o aposentado explica, que faz o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A oftalmologista, Marcia Ishiwaki, esclarece, que nos últimos anos tem havido mais casos da doença por causa do envelhecimento da população e por se fazer mais diagnóstico hoje do que no passado. “Mesmo com algumas pessoas não fazendo o tratamento, por falta de informações, isso faz com que o número de pacientes aumente”.
De acordo com a médica, o glaucoma é uma enfermidade crônica e degenerativa do nervo óptico (estrutura que envia as imagens do olho para o cérebro), normalmente associada ao aumento da pressão intraocular. “Ele provoca um estreitamento do campo visual, fazendo com que a pessoa perca progressivamente a visão periférica”. Marcia explica ainda, que na maioria dos casos, a doença é assintomática.
“É uma doença bem silenciosa. Se instala e vai progredindo lentamente, durante meses ou anos, sem a pessoa perceber. O problema é que, quando recebe o diagnóstico, o nervo óptico costuma estar bem danificado e a visão periférica já muito comprometida”, afirma.
Doenças
São vários os tipos de glaucoma. O mais comum é o primário de ângulo aberto, que representa cerca de 80% dos diagnósticos. Ele é assintomático e atinge pessoas a partir de 40 anos e a perda de visão começa nos extremos do campo visual e, se não for tratada corretamente, acaba por comprometer toda a visão.
O primário de ângulo fechado, com maior incidência em asiáticos e portadores de hipermetropia, ocorre quando o ângulo de saída do humor aquoso é bloqueado, geralmente pela íris, e o fluído não consegue ser drenado e provoca aumento súbito da pressão intraocular, e o paciente pode ter dor forte nos olhos e na cabeça e ficar com a visão turva.
O glaucoma congênito se dá quando a criança nasce com uma má formação no sistema de drenagem do fluído do olho. Seus sintomas incluem olhos sem brilho e de coloração azulada, lacrimejamento, fotofobia e aumento do tamanho do globo ocular. Pode se manifestar logo após o nascimento ou na infância.
Outro tipo de glaucoma é o de pressão normal. Diferentemente dos demais, neste ocorre dano ao nervo óptico mesmo sem a elevação da pressão intraocular. Suas causas são desconhecidas, mas sabe-se que tem uma associação com problemas vasculares.
Há ainda o secundário, desencadeado por fatores externos, como inflamação, trauma e uso de colírios de corticoide por tempo prolongado sem indicação e acompanhamento médico; o pigmentar, causado pela oclusão do ângulo de drenagem do olho por pigmento que se solta da íris, e o pseudoesfoliativo, provocado pela obstrução do sistema de drenagem do humor aquoso por depósitos fibrilares anormais.
Como a maioria dos casos é do tipo assintomático, o diagnóstico da doença se dá na consulta oftalmológica de rotina. Nesta ocasião, informa a médica Marcia Ishiwaki, “é imprescindível que seja feita a medição da pressão intraocular e o exame de fundo de olho, para analisar o estado e o funcionamento do nervo óptico”.
Tratamento
As terapias são feitas com procedimentos clínicos, cirúrgicos ou a combinação dos dois. No início da doença, normalmente recomenda-se a aplicação diária de colírios específicos. Eles podem ser usados separadamente ou combinados.
Em algumas situações também se faz necessário o uso de laser. As primeiras etapas do glaucoma de ângulo fechado, por exemplo, são realizadas dessa forma. A cirurgia, por sua vez, é indicada em cerca de 10% dos casos e no glaucoma congênito.
Segundo Marcia Ishiwaki, a adesão ao tratamento, que é contínuo e sem duração pré-determinada, é importantíssima para o seu sucesso. “Por não perceberem a evolução da doença, muitos pacientes tendem a negligenciar a administração dos remédios”, completa.