Hamas acusa Israel de matar 112 civis em fila de ajuda; Biden vê trégua mais longe

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A facção palestina Hamas acusou as Forças de Defesa de Israel de dispararem contra centenas de civis que aguardavam em fila para receber ajuda alimentar em uma região próxima à Cidade de Gaza, a principal da faixa homônima, na manhã desta quinta-feira (29).

O grupo terrorista contra o qual Israel está em guerra há quase cinco meses afirmou que ao menos 112 pessoas morreram e que outras 280 ficaram feridas. Em um comunicado, acusou Israel de “uma guerra genocida” e de cometer “assassinatos em massa e uma limpeza étnica”.

Porta-vozes militares de Israel afirmaram que o episódio de violência partiu dos próprios palestinos. De acordo com as Forças de Defesa, civis começaram a saquear o caminhão de ajuda e a se empurrar, deixando pessoas feridas e mortas por serem pisoteadas e atropeladas.

Depois, um pequeno grupo teria ido em direção às tropas israelenses. As Forças de Defesa dizem que teriam matado dez palestinos no momento, não os cerca de cem apontados pelo Hamas, uma vez que estariam acuadas e se vendo sob ameaça.

Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, disse que o caso é “extremamente alarmante” e que precisa ser investigado. Uma porta-voz da Casa Branca disse também que as mortes demonstram a necessidade de que Israel permita a entrada de mais auxílio humanitário na Faixa de Gaza.

Um porta-voz do governo do premiê Binyamin Netanyahu chamou o episódio de uma tragédia. “Os caminhões ficaram sobrecarregados, e as pessoas que dirigiam os caminhões, que eram motoristas civis de Gaza, avançaram sobre as multidões, matando, de acordo com o que entendi, dezenas de pessoas”, disse Avi Hyman a repórteres.

O episódio teria começado durante a madrugada no horário local, quando cerca de 30 caminhões de ajuda humanitária chegaram ao bairro de Rimal, na Cidade de Gaza, para entregar suprimentos. Os militares divulgaram vídeo com imagens aéreas que dizem ser do momento das mortes. Nas cenas, é possível ver centenas de pessoas correndo para o entorno dos caminhões e subindo neles.

As mortes ocorreram em uma área densamente povoada da Faixa de Gaza e cercada de estruturas sensíveis, como campos de refugiados e dois importantes hospitais: o al-Shifa, que chegou a ser invadido por Israel em novembro, e o al-Ahli Arab, alvo de uma explosão que matou centenas de pessoas no início da guerra.

O Departamento de Estado americano afirmou que os EUA estão “urgentemente atrás de informações” sobre o que aconteceu e que estão em contato com as autoridades israelenses. “Se tem algo que as imagens aéreas do incidente deixam claro é que a situação é desesperadora. As pessoas precisam de mais comida, de mais água, de mais remédios e de outros auxílios humanitários, e precisam disso agora”, disse o porta-voz Matthew Miller. Ele acrescentou que o número de mortes de civis em Gaza “é alto demais”.

Apesar da pressão por mais auxílio humanitário, os EUA têm mantido o forte apoio a Israel tanto no campo diplomático, barrando três vezes resoluções no Conselho de Segurança da ONU que pediam por um cessar-fogo na região, quanto militar —o Pentágono informou nesta quinta que entregou cerca de 21 mil munições guiadas de precisão a Israel desde o início do atual conflito.

O presidente Joe Biden disse nesta quinta que as mortes devem complicar as negociações para um cessar-fogo. Anteriormente, o próprio Biden havia dito que havia expectativas para uma nova trégua na próxima segunda (4). Agora, o líder americano diz que esse prazo já não é mais real dadas as recentes mortes.

O diretor da emergência do hospital al-Shifa, por sua vez, afirmou que havia pelo menos 50 mortos, entre eles mulheres e crianças. “Morreram ao correr na direção dos caminhões de ajuda humanitária”, disse Amjad Aliwa.

Também nesta quinta, o Ministério da Saúde de Gaza —controlado pelo Hamas, uma vez que o grupo governa a Faixa desde a segunda metade dos anos 2000— disse que o número de pessoas mortas chegou a 30 mil. Acredita-se que a cifra englobe civis e membros da facção.

Ainda no comunicado, o Hamas pediu que todos os cidadãos de nações árabes e islâmicas protestem “contra o massacre do povo palestino” e pressionem seus respectivos governos para que tomem uma posição “contra crimes de guerra israelenses”.

Jordânia e Egito foram os primeiros a se manifestar. Em nota, a chancelaria jordaniana disse que condena “o brutal ataque das forças de ocupação israelenses contra palestinos que apenas esperavam ajuda”. Já a chancelaria egípcia descreveu o ataque como desumano.

“Consideramos o ataque a civis que estavam apenas aguardando ajuda um crime vergonhoso e uma violação do direito internacional”.

Em comentários separados, o alto comissário de direitos humanos da ONU, o austríaco Volker Türk, disse que crimes de guerra foram cometidos por todas as partes no atual conflito no Oriente Médio.

“Já passou da hora de paz, investigação e responsabilização”, disse ele ao Conselho de Direitos Humanos da organização em Genebra.

Turk apresentava um relatório sobre a situação dos direitos humanos em Gaza e na Cisjordânia ocupada e disse que seu escritório registrou “muitos incidentes que podem constituir crimes de guerra pelas forças israelenses” e que há indicações de que tropas de Israel se envolveram em “ataques indiscriminados ou desproporcionais”.

Mas também salientou que grupos armados palestinos, como o Hamas e o Jihad Islâmico, lançaram projéteis em todo o sul de Israel e também detiveram centenas reféns, em mais uma lista de violações ao direito humanitário internacional.

 

Folhapress

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