A Bahia encerrou 2024 com o pior índice de mortes no trânsito dos últimos 25 anos. Segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), foram 2.993 vítimas fatais em Acidentes de Transportes Terrestres (ATT), o que representa uma média de oito óbitos por dia. Motociclistas e motoristas de veículos de quatro ou mais rodas dividem o maior percentual, com 39% cada, enquanto pedestres respondem por 14% das mortes.
Os números mostram um perfil predominante: 90% das vítimas fatais eram homens, com destaque para a faixa etária de 35 a 44 anos, responsável por 23% dos registros.
Crescimento das vendas de motos e reflexos no trânsito
O aumento no número de acidentes com motociclistas acompanha a alta nas vendas de motos no país. Apenas no primeiro trimestre de 2025, foram licenciadas 474.023 unidades, alta de 9,6% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo).
Para o engenheiro e especialista em segurança viária, Antônio Monteiro, o cenário é resultado de múltiplos fatores. Ele aponta a deficiência na mobilidade urbana e o empobrecimento da população como principais causas. “O transporte público é insuficiente e o custo de manter um carro é alto. A moto se apresenta como opção rápida e acessível, especialmente para pessoas de baixa renda”, avalia.
Monteiro também destaca a pandemia como impulsionadora desse aumento. “Muitos perderam o emprego e recorreram à moto para trabalhar, seja como entregador, seja no transporte de passageiros”, explica em conversa com o bahia.ba.
Imprudência e falta de percepção de risco
De acordo com o especialista, a imprudência é um fator determinante para o alto índice de acidentes. “Muitos motociclistas acreditam que descumprir regras compensa, sem perceber o risco real de suas ações. Ganhar segundos no deslocamento pode custar a vida”, alerta.
Os reflexos dessa imprudência aparecem nos hospitais. Em 2024, 12.888 pessoas foram internadas na Bahia após acidentes com motos, mais que o dobro do registrado em 2014 (5.949), representando aumento de 117% em uma década.
Cenário exige ações conjuntas
Para Monteiro, enfrentar o problema exige ações integradas. Ele defende investimentos maciços na mobilidade urbana, inspirando-se em cidades como Curitiba e em países europeus. “Quando o transporte público é eficiente, a dependência da moto diminui”, afirma.
O especialista também sugere ampliar o transporte ativo, com infraestrutura segura para ciclistas, a exemplo de Fortaleza, e melhorar as calçadas, incentivando deslocamentos a pé de forma segura. “Essas medidas são fundamentais para reduzir a necessidade do uso da moto e, consequentemente, o número de acidentes”, conclui.
Medidas em Salvador
Em resposta ao bahia.ba, a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) informou que atua em três frentes para reduzir acidentes: engenharia de tráfego, fiscalização e educação.
Na área de engenharia, foram implantadas mudanças como a motofaixa na Avenida Bonocô e ajustes nos limites de velocidade em vias como Pinto de Aguiar e Luís Eduardo Magalhães.
A fiscalização também foi intensificada, e as ações educativas incluem cursos gratuitos para motociclistas, abordagens nas ruas, palestras em escolas e empresas, além de campanhas de mídia.