Baixa mobilidade e fala comprometida: os desafios da recuperação do papa Francisco

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O papa Francisco recebeu alta neste domingo (23), após quase 40 dias internado para tratar problemas respiratórios. Da varanda do hospital e sentado em uma cadeira de rodas, o pontífice acenou e falou com os fiéis que o aguardavam.

Ao agradecer a presença do público, foi possível notar sua voz mais fraca. Já dentro do carro, a caminho do Vaticano, Francisco voltou a acenar para os presentes. Neste momento, também foi possível ver que o Santo Padre estava com um cateter nasal.

“O papa tem sequelas de um problema respiratório grave, o que implicará em uma dependência do uso de oxigênio domiciliar. O cateter nasal certamente estava ligado a um aparelho chamado ‘concentrador de oxigênio domiciliar’. Ele seguramente vai depender disso e associado a isso, dependerá também de fonoaudiologia, para evitar microaspirações“, esclarece a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo.

Baixa mobilidade do papa

Francisco tem 88 anos. Ao longo do seu papado, enfrentou uma série de problemas de saúde, incluindo dificuldades respiratórias, problemas de locomoção e dores de joelho devido a uma osteoartrite.

Por isso, a cadeira de rodas não é novidade — há tempos o pontífice a utiliza para se locomover. A internação prolongada, no entanto, contribui para a redução da mobilidade.

“Com muito tempo de internação, o paciente pode ter uma fraqueza muscular. O músculo fica fraco e atrofia, assim como o diafragma, os músculos respiratórios. Isso faz com que a recuperação seja mais lenta”, explica Carlos Eduardo Pompilio, médico do Hospital das Clínicas, do departamento de Clínica Médica.

Leandro Rolim, médico intensivista do Hospital Albert Einstein, destaca que o impacto em idosos é ainda maior, pois eles frequentemente apresentam sarcopenia (perda progressiva de massa muscular e força) e ausência de reserva funcional, mesmo antes da internção.

“É muito comum que um paciente idoso perca a mobilidade após uma internação prolongada. Isso ocorre devido à redução de força muscular e à perda de capacidade funcional, ambos associadas à imobilidade e doenças críticas”, completa Rolim.

Dificuldade para falar

Na sexta-feira (21), o cardeal Víctor Manuel Fernández disse que Francisco precisará “reaprender a falar” após o uso prolongado de oxigênio de alto fluxo. Por isso, ele será submetido a exercícios de fala, além de fisioterapia respiratória. A equipe médica espera que o pontífice recupere a voz gradualmente, embora não tenham estimado um prazo para isso.

“A fala está intimamente ligada ao sistema respiratório. A voz é resultado da passagem de ar através das cordas vocais. Qualquer condição que interfira com a função pulmonar tem potencial para alterar a voz e a capacidade de falar”, diz Leandro Rolim.

Pompilio complementa que a condição melhora com fisioterapia e acompanhamento fonoaudiológico. “Um fonoaudiólogo especializado nisso irá auxiliá-lo a recuperar a voz gradualmente”, afirma.

Meses de recuperação

Segundo a equipe médica, Francisco precisará manter alguns cuidados e ficar em repouso por dois meses. Ele poderá voltar ao trabalho de forma gradual, mas adotando um estilo de vida mais tranquilo. Apesar de estar curado da pneumonia, ainda requer acompanhamento.

Para a pneumologista, as semanas subsequentes à internação, com fonoaudiologia, fisioterapia motora e respiratória, serão essenciais para a recuperação do pontífice. Ela também ressalta que Francisco deve evitar contato muito próximo com as pessoas, pois seu sistema imunológico ainda está fragilizado.

“Seria importante que as pessoas usassem máscara e mantivessem certa distância ao encontrá-lo. Além disso, ele deve evitar grandes aglomerações. Esses cuidados são recomendados para qualquer pessoa idosa com doença respiratória“, alerta a especialista.

Sobre o risco de uma nova infecção viral ou bacteriana, Dalcolmo acredita que a probabilidade é pequena, já que o papa deve estar vacinado com imuzantes fortemente recomendados para sua faixa etária.

“Isso não impede totalmente um novo episódio, mas a vacinação reduz significativamente a gravidade e a virulência dessas infecções”, finaliza a pneumologista.

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