O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou uma investigação contra si mesmo e membros de seu governo após uma crise política desencadeada pelo seu apoio ao lançamento da criptomoeda $Libra, promovida por uma empresa privada. O caso, que parte da imprensa local já chama de “cripto gate”, envolve suspeitas de irregularidades e possíveis vantagens pessoais obtidas por pessoas próximas ao mandatário. As informações foram publicadas pela Agência Brasil.
A polêmica começou quando Milei publicou, em suas redes sociais, um texto de apoio ao projeto Viva La Libertad, responsável pela criação da $Libra. A criptomoeda, apresentada como uma ferramenta para financiar pequenas empresas e empreendimentos na Argentina, teve seu valor disparado após o endosso presidencial. No entanto, o ativo digital sofreu uma queda abrupta após especialistas e opositores alertarem sobre riscos de fraude.
Diante das críticas, Milei apagou a publicação e afirmou não ter vínculos com o projeto, alegando desconhecer seus detalhes. A medida, porém, não foi suficiente para conter a crise. O jornal La Nacion, um dos mais influentes do país, destacou que o escândalo abriu uma “caixa de pandora”, com acusações de que aliados do presidente teriam solicitado vantagens pessoais em troca de acesso ao governo.
Em resposta, o governo argentino anunciou duas ações. Em nota oficial divulgada no sábado (15), a equipe de Milei informou que o presidente determinou ao Gabinete Anticorrupção a abertura de uma investigação para apurar possíveis irregularidades envolvendo membros do governo, incluindo ele próprio. Além disso, será criada uma força-tarefa para avaliar o projeto Viva La Libertad, a $Libra e as empresas e pessoas envolvidas.
A nota também detalhou que o primeiro contato de Milei com os representantes da empresa responsável pela criptomoeda ocorreu em outubro de 2023, durante um encontro público registrado em sua agenda. Em janeiro deste ano, o presidente se reuniu novamente com os empresários, a pedido deles, para discutir a infraestrutura tecnológica do projeto.
A decisão de Milei de investigar a si mesmo foi interpretada como uma tentativa de conter a crise e demonstrar transparência. No entanto, a medida não impediu que organizações sociais e partidos políticos ingressassem na Justiça com denúncias contra o presidente.
Representantes do Observatório do Direito à Cidade, do Movimento A Cidade Somos Nós Que A Habitamos e do partido Unidade Popular acusam Milei de prejudicar mais de 40 mil pessoas ao se associar a um suposto esquema que teria causado prejuízos da ordem de US$ 4 bilhões.
A crise política gerada pelo caso $Libra coloca o governo Milei sob pressão, enquanto a investigação anunciada pelo próprio presidente busca esclarecer os fatos e recuperar a confiança pública.