De longe, a ladeira do Pelourinho parece um grande tapete vermelho, coberta pelas vestes dos devotos que seguem a procissão de Santa Bárbara. A festa, que inaugura o calendário de celebrações populares de Salvador, é um encontro de fé, história, sincretismo e resistência. Reconhecida como Patrimônio Imaterial da Bahia, ela une católicos e adeptos das religiões de matriz africana em uma manifestação cultural e espiritual singular.
Antes, a imagem de Santa Bárbara ficava no Morgado de Santa Bárbara, no pé da Ladeira da Montanha. Depois do incêndio, ela foi transferida para a Igreja do Corpo Santo. Hoje, ela está na Igreja da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, e é de lá que saem os cortejos.
Foto: Amanda Oliveira/Salvador da Bahia
Foto: Amanda Oliveira/Salvador da Bahia
Hoje, o trajeto começa no Largo do Pelourinho, segue pelo Terreiro de Jesus, Praça da Sé, Praça Municipal e Ladeira da Praça, com uma parada na sede do Corpo de Bombeiros, na Praça dos Veteranos. A procissão continua pela Baixa dos Sapateiros até o Mercado de Santa Bárbara e retorna ao Largo, onde os andores permanecem para a devoção dos fiéis.
Para os católicos, Santa Bárbara é a protetora contra tempestades e raios; nas religiões de matriz africana, ela é Iansã, a orixá dos ventos e tempestades. No Mercado de Santa Bárbara, um dos pontos da festa, o tradicional caruru é distribuído como símbolo de partilha e gratidão. Mas, neste ano, ele será feito no dia 7.
No entanto, o mercado enfrenta problemas estruturais que preocupam comerciantes e organizadores. “O mercado está derretendo, se acabando. É patrimônio, e a capela que eu cuido não pode ser esquecida”, lamenta Tânia Reis, uma das organizadoras.
Ela destaca que, nos últimos anos, a realização da festa contou principalmente com esforços comunitários, como bingos e doações. No entanto, neste ano, os poderes públicos contribuíram para viabilizar a comemoração. Mais do que uma celebração religiosa, a Festa de Santa Bárbara é um ato de resistência diante do abandono da Baixa dos Sapateiros, polo cultural e comercial que carece de investimentos. “Independente das condições, o povo vem, porque a fé em Santa Bárbara é maior que qualquer dificuldade”, afirma Tânia.