Cerca de 4.000 presos fugiram de uma prisão em Porto Príncipe, a capital do Haiti, neste sábado (2), após uma gangue armada invadir o local e liberar quase todos os detentos, informaram a embaixada francesa e a mídia local.
Os invasores espionavam a penitenciária, situada a poucos quarteirões do Palácio Nacional, desde quinta-feira (29). O governo —liderado pelo primeiro-ministro Ariel Henry desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021— não comentou o episódio.
Entre os prisioneiros que fugiram estão “membros importantes de gangues muito poderosas”, informou o jornal Gazette d’Haïti. Segundo a agência de notícias Reuters, neste domingo não havia sinais de policiais na penitenciária, que estava com seus principais portões abertos.
Não está claro o número exato de fugitivos, mas sabe-se que ele se aproxima da totalidade dos detentos. A penitenciária, construída para comportar 700 presos, abrigava 3.687 em fevereiro do ano passado, segundo a organização Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. Além disso, ao menos três presos morreram no fogo cruzado.
Um funcionário da penitenciária contou que 99 presos optaram por permanecer em suas celas por medo de serem mortos no tiroteio. Entre eles estão os mercenários colombianos presos por seu suposto envolvimento no assassinato de Moïse.
Um detento disse à Reuters, sob anonimato, que ele era o único que havia sobrado em sua cela, e contou que ele e os companheiros dormiam quando começaram a ouvir o som de balas.
A fuga vem na esteira de dias de violência nas ruas da capital, disparados após apelos do traficante e ex-policial Jimmy Cherizier para que facções se unissem e derrubassem Henry. Cherizier, mais conhecido como “Barbecue” (churrasco em inglês), lidera o grupo G9, uma aliança de gangues que controla cerca de 80% de Porto Príncipe.
“Todos nós, os grupos armados nas cidades das províncias e os grupos armados na capital, estamos unidos”, disse o antigo agente da polícia, que está por trás de vários massacres em Porto Príncipe.
Cherizier alertou esta semana os moradores locais para impedirem as crianças de irem à escola para “evitar danos colaterais” à medida que a violência aumentava. Quase 15 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas nos últimos dias, e dez locais que acolhem pessoas deslocadas internamente foram esvaziados no fim de semana, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) da ONU.
O paradeiro exato de Henry é desconhecido. Ele deveria retornar neste domingo de uma visita ao Quênia, onde assinou um acordo de segurança para combater a violência das gangues. No ano passado, o país africano se voluntariou para liderar uma força de segurança internacional na nação caribenha.
A ideia era que cerca de 1.000 policiais do Quênia fossem mandados ao Haiti, mas a Suprema Corte do país barrou o plano em janeiro alegando que o governo não tinha autoridade para enviar o efetivo. Nesta quinta (29), o premiê haitiano foi ao Quênia tentar salvar o acordo.
Numa declaração na sexta-feira (1°), o presidente queniano, William Ruto, disse que ele e Henry assinaram o pacto e discutiram os próximos passos para acelerar o envio dos policiais.
Além disso, as Bahamas se comprometeram a enviar 150 policiais. A Jamaica e Antígua e Barbuda afirmaram que estão dispostas a ajudar, enquanto os EUA prometeram US$ 200 milhões para apoiar a implantação do plano de segurança.
O atual premiê, que chegou ao poder em 2021 após o assassinato do último presidente do país, Moïse, já havia prometido renunciar ao cargo no início de fevereiro, mas isso não aconteceu. Depois, ele disse que a segurança deveria primeiro ser restabelecida para garantir eleições livres e justas.
O último pleito presidencial no Haiti foi em 2016.
Em janeiro, a ONU afirmou que mais de 8.400 pessoas foram vítimas da violência de gangues no Haiti no ano passado —mais do dobro dos números registrados em 2022.
Folhapress