Leia na íntegra o prefácio que Jair Cardoso escreveu em homenagem à Candeias, no livro: Candeias 80 anos de Petróleo no Brasil

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Leia na íntegra o PREFÁCIO que Jair Cardoso dos Santos, escreveu em homenagem á Candeias, nos 80 anos da descoberta do petróleo no Brasil. Em que, o jornalista Pedro Tinoco registrou para relatar o fato.

Prefácio de Jair Cardoso:
Belas histórias de vida foram construídas por aqueles que contracenaram na epopeia do teatro social de Candeias, localidade do Recôncavo da Bahia que deu nome ao primeiro campo de petróleo do Brasil naqueles idos de 1941, inaugurado com a perfuração do poço C-1 (Candeias 1). Oitenta anos se passaram e suas vozes ainda ecoam nos meus ouvidos de historiador e ex-petroleiro nascido em Candeias. Guardei suas memórias. Que são minhas também. São memórias do Brasil.
Vidas e peles desses atores sociais foram marcadas – para sempre – com o óleo negro que brotou de poços petrolíferos em Candeias, em plena Segunda Guerra Mundial, quando campos, refinarias e terminais de petróleo eram explodidos. O Brasil importava seus derivados e autoridades do país recomendavam o racionamento. Foi nesse contexto que brotou a seiva preciosa das entranhas do massapê no mágico entorno da Baía de Todos-os-Santos.
Desde o início, o trabalho era duro. Dos pioneiros no ofício ouvimos, em tom entre o sério e o irônico, a corriqueira expressão “quer mole, vá para a lama do petróleo!” Houve resistência, muitos não queriam ir, mas a “lama” mole do petróleo transformou para sempre inúmeras trajetórias de vida – dos que foram e dos que não foram. Entre os primeiros, trago as memórias do senhor Guilherme Ferreira dos Santos, nascido em Santo Amaro. Ele começou a trabalhar no campo de Candeias em 1944, na empresa Drinner, que fazia a perfuração dos poços e os entregava ao Conselho Nacional do Petróleo (CNP), antecessor da Petrobras. Nessa empresa americana, um sondador como ele recebia sessenta mil réis mensais. Em 1948, esse competente trabalhador foi contratado diretamente pelo CNP e, após a criação da Petrobras por Getúlio Vargas, em 1953, entrou para os quadros da companhia. Depois de Guilherme, o filho, José Gutemberg Barbosa dos Santos e o genro, Manuel Alves de Miranda, tornaram-se trabalhadores da empresa, caminho certo para o sucesso profissional e financeiro.
Outra personagem é a professora Dalila Baptista dos Santos. Depois de perder quase toda a sua família em Salvador, foi contratada pelo Estado da Bahia, no ano de 1936, para dar aulas a uma turma de crianças em Candeias. Em 1951, o CNP a admitiu para ensinar aos petroleiros à noite, o que o fazia à luz do lampião. Antes, em 1946, diante da demanda surgida pelas atividades petrolíferas, e ao lado do esposo, Álvaro Martins dos Santos, tornou-se empresária, ao fundar o Instituto de Preparo Datilográfico de Candeias. Com os ganhos financeiros auferidos em suas atividades profissionais, fundou, em 1965, o Educandário Santa Lúcia, responsável pela formação das primeiras professoras primárias em solo candeense.
O médico Francisco Gualberto Dantas Fontes, nascido em Riacho dos Dantas, no Estado de Sergipe, é outro personagem que emerge do cenário criado pelas atividades petrolíferas em Candeias. Diante da crescente demanda por serviços de saúde ocasionada no pioneiro berço petrolífero, foi contratado para ser o primeiro profissional do Posto Médico de Candeias, inaugurado em 1953. Em seguida, passou a integrar os quadros da Petrobras para, concomitantemente, atender aos funcionários da empresa. Em um curto espaço de tempo tornou-se conhecido e admirado no então distrito de Salvador, sendo eleito o seu primeiro prefeito, logo após a sua emancipação, em 14 de agosto de 1958, ocorrida graças às transformações advindas no seu seio com a exploração e o refino do ouro negro. Posteriormente, o médico tornou-se empresário, ao criar a Clínica Maria Albano, até hoje uma importante referência no setor de saúde do município de Candeias.
O historiador que escreve estas linhas também é personagem deste teatro social. Fruto do ventre generoso de Candeias, foi o quarto integrante da sua família a ingressar na Petrobras, no ano de 1984, tendo trabalhado nos campos de Candeias, Candeias CX e Dom João. Seu pai, José Eraldo dos Santos, trabalhou no Terminal Marítimo de Madre de Deus, o seu irmão primogênito, Josué Anunciação dos Santos, laborou na Refinaria de Mataripe (RLAM) e outro irmão, José Everaldo dos Santos, deu expediente no Campo de Candeias e em campos do município de Catu. Seu irmão Joel Cardoso dos Santos foi o quinto integrante da família a ingressar nessa indústria, na RLAM. Uma família com cheiro de petróleo!
Emocionado sempre que passava pelo C-1, primeiro poço comercial de petróleo do Brasil, foi ali que ocorreu o meu primeiro desejo e entusiasmo em pesquisar e contar a saga pioneira de Candeias, este pulsante município do Recôncavo da Bahia, presente na história do país desde o século XVI. Enquanto trabalhava nas operações em estações e em poços do seu entorno, tive o privilégio de, ao mesmo tempo, participar de capítulos brilhantes da história do povo brasileiro e escrever sobre essa trajetória.
A obra em apreço, escrita com primor pelo ilustre jornalista Pedro Tinoco é uma ode à Bahia e ao Brasil. Parabéns à 3R Petroleum pelo presente, Candeias e o seu povo agradecem!
* Escritor, historiador, professor, advogado e mestre em Crítica Cultural, autor dos livros Candeias – Histórias de Fé e Trabalho e Candeias – História da Terra do Petróleo

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