“A evolução da chamada inteligência artificial está modificando de forma radical também a informação e a comunicação e, por meio delas, algumas das bases da convivência social”, afirmou o papa Francisco em texto que divulgou nesta quarta-feira (24).
Na mensagem, Francisco afirmou que o mundo hoje “corre o risco de ser rico em tecnologia e pobre em humanidade”. Para evitar isso, ele prosseguiu, seria preciso recuperar a “sabedoria do coração para ler e interpretar as novidades do nosso tempo e descobrir o caminho em direção à comunicação humana plena”.
O líder religioso destacou que não se deve esperar sabedoria das máquinas e que o próprio termo “inteligente” é falacioso. Simulações são as bases da IA, o que “pode ser útil em alguns campos específicos”, disse o pontífice, mas perverso quando seu objetivo é distorcer a realidade.
“Já aconteceu também de eu ser objeto delas”, lembrou o papa, referindo-se às imagens que circularam nas redes sociais em fevereiro de 2023 mostrando-o com um estiloso casaco de inverno branco. A suposta fotografia era uma montagem ultrarrealista criada pelo software Midjourney.
Além disso, acrescentou Francisco, a representação da realidade a partir de dados tem o potencial de planificar as relações entre as pessoas, o que implicaria uma perda substancial da verdade das coisas e, consequentemente, da comunicação real.
“A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha”, escreveu.
Francisco ainda discorreu sobre a relação entre a IA e o jornalismo. Para ele, a tecnologia deve apoiar o trabalho do repórter. Quando isso não acontece, abre-se espaço para a desinformação. A fim de exemplificar seu raciocínio, o líder religioso aludiu à cobertura de guerras: “penso nos relatos sobre guerras e na batalha paralela que se trava através de campanhas de desinformação”.
Já caminhando para o encerramento de sua mensagem, o papa levantou uma série de questionamentos. “Como garantir a transparência do processamento de informações? […] Como deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula? […] Como podemos tornar sustentável esse instrumento poderoso, caro e que consome tanta energia? Como podemos torná-lo acessível também aos países em desenvolvimento?”.
Diante da revolução tecnológica que o século 21 vive, parece haver mais perguntas do que respostas. Mas, ao fim de sua carta, Franciso garantiu: “A resposta não está escrita; depende de nós”.
Folhapress