Domingo é dia da semana no qual mais se mata em Salvador e Região Metropolitana; aponta levantamento

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Era domingo, o dia que mais se mata em Salvador e Região Metropolitana. Naquele 9 de julho de 2017, há quase dois anos, a comerciante Nadjane Santos de Jesus, 30 anos, fez o que costumava, mesmo aos finais de semana: acordou cedo. Às 5h, estendeu as roupas no varal de casa, em Itapuã; depois, saiu a pé para comprar feijão fradinho para o almoço de domingo na casa da irmã; às 6h, foi vista por vizinhos passeando com o cachorro, Mayck. Só que o cão voltou sozinho. Foi aí que o marido, Eviton, deu por falta de Nadjane. Ela foi achada morta três horas e meia depois, na Estrada CIA/Aeroporto. Estava nua, o corpo tinha marcas de espancamento e violência sexual.

Aquela Nadjane, que costumava passar os finais de semana em Santo Amaro ou Madre de Deus, voltou para casa na véspera do crime porque queria tranquilidade para assistir à estreia da seleção feminina de vôlei no Grand Prix, contra a Bélgica. Era apaixonada por vôlei e descrita pelo marido como uma mulher dura, autoritária. Por isso mesmo, não aceitou a sugestão do marido de ver o jogo na casa da irmã.

“Com ela, não tinha esse negócio de não. Era sim e acabou”, recorda Eviton Gomes.

Ela não resistiu à violência. As fotos de Nadjane ainda estão espalhadas pela casa e a mãe dela decidiu deixar Salvador, enquanto o réu confesso do crime, João Paulo Castro Moreira, ainda aguarda um julgamento sem data para acontecer.

“A mãe dela morre aos poucos, diz que só vai respirar quando o juiz der a sentença. Mas eu queria ver ele pagar com a própria vida”, desabafa.

Mais uma audiência de instrução do caso foi marcada para o dia 13 de agosto, às 10h.

Nos últimos oito anos e seis meses, 3.224 pessoas foram assassinadas em dias de domingo em Salvador e Região Metropolitana (RMS). É o dia da semana mais violento. Naquele mesmo 9 de julho de 2017, por exemplo, outras três pessoas foram assassinadas: uma na capital e duas em Lauro de Freitas, na RMS. Só este ano, das 745 pessoas assassinadas até 30 junho, 139 foram mortas no primeiro dia da semana – 18,6% do total. No primeiro domingo deste mês, dia 7, foi registrada mais uma morte.

Os dados foram coletados pelo CORREIO nos boletins diários de óbitos divulgados pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). São todas vítimas dos chamados crimes violentos letais intencionais (CVLIs), que incluem, além dos homicídios, os latrocínios – roubos seguidos de morte – e as lesões corporais seguidas de morte. Foram 2.970 homens e 240 mulheres mortas – 13 pessoas não tiveram o sexo identificado.

Significa dizer que, dos 16.625 CVLIs ocorridos em Salvador e nas outras 12 cidades da RMS em oito anos, 19,39% aconteceram entre 0h e 23h59 de domingos. Em média, oito assassinatos para cada um dos 388 domingos nesse período.

Em apenas um deles não houve crimes. O domingo de paz foi 2 de abril de 2017. Por outro lado, no dia 5 de fevereiro de 2012, durante uma das greves da Polícia Militar da Bahia, o número de crimes no domingo chegou a 18 – mais que o dobro da média diária contabilizada pelo CORREIO.

Logo após domingo, sábado é o dia mais violento (16,6%), seguido da sexta-feira (14,1%), segunda (12,7%), quarta (12,6%), quinta (12,4%) e, por fim, da terça-feira (11,9%).

Álcool e acerto de contas
Para o sociólogo e professor Luiz Cláudio Lourenço, um dos coordenadores do Laboratório de Estudos Sobre Crime e Sociedades (Lassos), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), os crimes nos finais de semana são, mesmo, mais recorrentes. Não por acaso, logo após o domingo, os crimes nos sábados foram os mais numerosos: 2.760 de janeiro de 2011 a 30 de junho de 2019.

Lourenço diz que é difícil apontar uma explicação para o fenômeno, mas é possível levantar algumas hipóteses que tornam o domingo o dia mais violento.

“O fim de semana é mais complicado, porque é o momento em que as pessoas se encontram e, em alguns casos, elas partem para o acerto de contas”, afirma ele.

Mas não são só os CVLIs que aumentam nesses dias.

“Também é o momento em que as pessoas ingerem mais álcool e os conflitos interpessoais tendem a aumentar. Inclusive, aumentam outros crimes ligados a esses conflitos, como violência doméstica”, avalia.

Foi o que aconteceu na cidade de Muritiba, no Recôncavo Baiano, no dia 7 de abril deste ano. Naquele domingo, Lucival de Oliveira Rodrigues, 33, discutiu com a esposa por ciúmes. A filha mais velha do casal, Michele Magalhães Rodrigues, de apenas 10 anos, tentou separar a briga dos pais, mas Lucival disparou duas vezes contra a menina, que morreu no local. O filho mais novo, de 5 anos, também foi baleado. Lucival foi encontrado enforcado três dias depois, em Lauro de Freitas.

A mistura de álcool com aglomerações também pode explicar o cenário, aponta Lourenço. Em 2018, quatro pessoas foram mortas em Camaçari, na RMS, em uma festa de paredão no Domingo de Páscoa. A chacina aconteceu após um Baba de Saia. Homens encapuzados chegaram ao local e atiraram contra os alvos, que participavam da festa. Segundo a polícia, o alvo era um grupo rival.

Com informações do Correio da Bahia

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